O caminhoneiro Luiz Fernando Costa, em entrevista exclusiva ao Fantástico, a primeira desde o acidente com a carreta que derrubou uma passarela na Linha Amarela, no Rio de Janeiro, na terça-feira (28), pediu perdão às famílias das vítimas. Cinco pessoas morreram no acidente.
“Perdão a todos. Se pudesse pedir, abraçar... Eu tenho família também. Tenho um casal de filhos. Cinco famílias destruídas. A minha poderia ser a outra. Perdão mesmo”, declarou. O motorista permanecia internado no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital do Coração (HSCor) de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, sem previsão de alta.
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Na entrevista, Costa garantiu que não viu o acidente e não percebeu que a caçamba do caminhão havia levantado. “Eu não vi nem o acidente. Só escutei aquele estrondo (...) Não sei nem até agora quantas pessoas que morreram, por causa dessa desgraça”, afirmou, durante a entrevista. Ao ser informado sobre quantas pessoas morreram, o motorista chorou. A dona de casa Dulce Costa, mãe do motorista que acompanhava a entrevista, tentou consolá-lo. “Não fica assim.”
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O caminhão estava com a caçamba erguida e bateu na passarela, que caiu sobre as seis pistas da Linha Amarela. Dois carros foram esmagados e três pessoas ficaram presas às ferragens. Das cinco vítimas que morreram, duas atravessavam a passarela no momento do acidente.
O Fantástico teve acesso à imagem inédita do acidente. A câmera de segurança de um ônibus que estava a poucos metros do caminhão registrou o momento do impacto na passarela.
O motorista do ônibus contou à polícia que tentou avisar o caminhoneiro. Não conseguiu porque o veículo seguia em alta velocidade. “Quando bati, veio um motorista, acho que de uma empresa de ônibus. Ele falou comigo: ‘Olha lá o que você fez.’ Eu falei: ‘Cara, o que que eu fiz?’ Até então, eu não sabia. Para mim, tinha sido uma pancada na minha traseira com um doido, um outro caminhão, alguma outra coisa.(...) Eu não sabia nunca que a caçamba estava levantada. Nunca. Nunca queria destruir, queria destruir uma família. Nunca”, disse.
Mesmo sentindo muitas dores, Luiz Fernando aceitou falar com exclusividade ao Fantástico. Ele teve lesão no fígado, no coração e no pulmão e quebrou três costelas. “Não conseguia. Não saí nem de dentro da cabine de tanta dor. Eu não sabia que estava com costela quebrada, não sabia que estava com nada. Só estava com muita dor, agachado ali do lado do volante”, contou.
Arte queda de passarela da Linha Amarela (Foto: Arte/G1)
Irregularidades
Ao dirigir pela Linha Amarela, que liga as zonas Norte e Oeste do Rio, Luiz Fernando cometeu várias irregularidades. Naquele horário, às 9h, caminhões são proibidos de circular pela via expressa. Além disso, ele estava acima da velocidade permitida, não usava o cinto de segurança e falava ao celular.
O motorista admitiu que foi negligente na direção da carreta. “Com certeza (sobre assumir que foi negligente). Não sou louco de levantar um troço de toneladas contra carros pequenos numa via daquela, capaz de derrubar uma passarela”, ressaltou.
O Fantástico levou um caminhão do mesmo modelo usado por Luiz Fernando para uma pista fechada para obras em São Paulo. Por motivos de segurança, o veículo não passou dos 40 km/h, velocidade bem inferior à do caminhão no momento do acidente.
“A caçamba normalmente para acionar você pisa na embreagem até o final e aciona a tomada de força que manda pressão pra bomba hidráulica. Em seguida, você libera o óleo da bomba hidráulica pra levantar a caçamba”, explica o motorista Alessandro Pereira Batista.“O painel, ele não indica nada, o procedimento é todo hidráulico."
"O motorista vai perceber. Isso começa a balançar, tira todo o prumo do caminhão, o ponto de equilíbrio dele sobe. Desculpe, mas tem que ser um motorista muito distraído para durante três quilômetros não ter olhado no espelho”, completou Mario Rinaldi, diretor da Associação de Fabricantes de Caminhões.
Costa discordou da avaliação de Rinaldi. “Tu não sente impacto nenhum levantando uma caçamba daquela a não ser que tenha um tufão, furacão, para ficar aquela caçamba levantada. Aí eu vou sentir. Fora isso, levantar ela mesma, coisa que quando está parado. Eu senti o impacto, mas não sabia que era naquela passarela”, declarou.
A Polícia Civil pretende concluir as investigações do caso nesta semana. “Pela investigação, ainda não temos a conclusão do laudo, mas que possa ter havido realmente uma falha humana, pela distração do motorista, principalmente por ter falado ao telefone celular”, afirmou o delegado Fábio Asty.
Para o delegado, o motorista pode ter esbarrado, de forma proposital ou acidental, no interruptor que aciona o levantamento da caçamba. “Exato. Ele pode ter acionado o interruptor de força de forma voluntária ou involuntária, por um esbarrão, por exemplo, quando estava utilizando a caixa de marchas. E com isso, com a aceleração que ele dispendeu na Linha Amarela, e com essa aceleração ele pode ter causado esse acidente.”
A análise das imagens feita pela polícia revela que, do momento em que a caçamba começou a levantar até o choque com a passarela, passaram-se 36 segundos. Neste período, ele trocou de pista duas vezes. “Eu não sei o que houve, não. Mas houve falha mecânica. Se for feita a perícia... Embaixo do caminhão, eles vão saber o que foi... Foi alguma coisa debaixo...”, defendeu Costa.
Homicídio culposo
Luiz Fernando deve ser indiciado por homicídio culposo, sem intenção de matar. “Mas ao final das investigações, ele pode ser indiciado por homicídio culposo e pelas lesões corporais culposas. Caso tenha sido comprovado que ele assumiu o risco desse resultado ter acontecido”, disse o delegado.
A empresa Arco da Aliança, dona do caminhão, aguarda o resultado da perícia. “Vida não tem como voltar. É uma coisa que, infelizmente... Senão, a gente voltaria o tempo, né? Mas as coisas que forem, que a Justiça falar que tem que fazer, a empresa com certeza vai assumir todas as responsabilidades”, disse Adélia Almeida Hernandes, dona da empresa.
Frequentes
Acidentes como o do Rio são mais frequentes do que se imagina. Fato semelhante ocorreu na região metropolitana de Porto Alegre, em dezembro de 2013. Não houve feridos, na ocasião. Mas em Sorocaba, interior de São Paulo, dois morreram. O acidente aconteceu em novembro de 2010.
Em Uberlândia, a maior cidade do Triângulo Mineiro, em maio do ano passado, houve acidente semelhante na BR-050, uma rodovia importante do país. O caminhão, que também estava com a caçamba levantada, bateu em uma passarela de pedestre.
As imagens gravadas logo após a batida mostram a caçamba presa nas ferragens. Uma mulher que estava em uma motocicleta ficou ferida. E um homem, que atravessava a passarela numa bicicleta, morreu. Luís Amado Bezerra, de 58 anos, despencou de uma altura de mais de cinco metros.
A Polícia Civil só encerrou as investigações na última sexta-feira (31). Segundo o delegado, o laudo da perícia foi inconclusivo. Mas o motorista foi indiciado por homicídio culposo.
Desde 2012, a Associação Brasileira de Normas Técnicas recomenda que os caminhões saiam de fábrica com um dispositivo de segurança, que evita que a caçamba levante em movimento.