No dia 26 de janeiro, mais um crime contra motorista de ônibus na região metropolitana de Belo Horizonte a categoria: Humberto Andrade, de 27 anos, foi executado com um tiro na cabeça. O suspeito, Rafael Martins, de 19 anos, estava irritado por ter tido o carro apreendido após se envolver em uma batida com um coletivo.
O crime, que mobilizou os trabalhadores do setor reflete a realidade vivenciada diariamente pelos condutores de ônibus: de acordo com levantamento do Sindicato dos Rodoviários de BH e região, os profissionais sofrem de quatro a seis agressões diárias. A violência pode vir em forma de xingamentos, brigas, agressões e crimes.
De acordo com o presidente do órgão, Ronaldo Batista, cerca de 30% da categoria está afastada por doenças relativas ao trabalho, sendo que aproximadamente 20% delas foi causada por algum episódio de violência.
— A gente acredita que estes números são muito maiores na prática. Afinal, quem tem essas informações são as empresas e elas não passam estes dados pra gente.
Batista explica que, diante das estatísticas, o sindicato tem articulado medidas de combate à violência. São feitos informativos para que os motoristas saibam como preservar a própria saúde e o projeto de um seminário está em andamento. O objetivo é fornecer orientações para que os profissionais saibam se proteger durante o trabalho. No entanto, o presidente do sindicato avalia que são as empresas as principais responsáveis pela proteção ao funcionário.
— Quem tinha que tomar essas medidas são os patrões, porque o empregado fica muito mais tempo à mercê das empresas.
Ele acredita ainda que o crescimento de episódios de agressão esteja relacionado aos problemas enfrentados pela população com o trânsito e o sistema de transporte público.
— O usuário fica revoltado e não tem como xingar o patrão, então ele responsabiliza o condutor e o trocador.
Experiência
Motorista há 18 anos, Paulo César da Silva já cansou de viver na pele o sentimento de impotência durante o crime. Além de agressões verbais que já sofreu, ele lembra que um dos fatos mais marcantes de sua carreira foi durante um assalto à linha que leva do bairro São Geraldo ao campus da UFMG, na Pampulha. Quatro bandidos armados abordaram o coletivo no momento em que ele desembarcava passageiros. Com medo, ele chegou a trancar as portas e avançar com o veículo junto com os criminosos.
Os suspeitos foram detidos, mas soltos poucos dias depois. Depois de sofrer várias ameaças, o condutor teve que trocar de linha. Mesmo assim, lembra até hoje o que pensou durante o assalto.
— Passa um filme na sua cabeça, a gente fica assustado e começa a pensar que não vai voltar para casa.
Resposta
O Setra (Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte) alegou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não possui os números apresentados pelo sindicato da categoria. Ainda segundo o órgão, a orientação repassada aos motoristas é que, em qualquer problema, procurem não se envolver, parem o veículo e acionem a Polícia Militar. Nenhum representante do sindicato quis se posicionar.
Fonte: R7