A reportagem GP descobriu, recentemente, que Paulo Henrique Costa Corgosinho, 41, casado, uma filha, Ana Luíza, natural de Belo Horizonte e neto do pará-minense Amaral Lima Costa, mais conhecido como Sô Amaral da Cooperativa, reside na Holanda, onde trabalha em um Centro de Excelência em Águas da Unesco. Pesquisando, a GAZETA soube que Paulo Henrique é cientista e professor, e conhece os mais diferentes Estados e paisagens do Brasil, da Europa, das Américas Latina e do Norte e também da Ásia e África. Ele fala 4 idiomas e, ao conseguir o e-mail dele, a GAZETA finalmente pode realizar mais esta entrevista exclusiva. Não deixe de ler os melhores momentos.
“Meus pais, o médico Antônio Alves Corgosinho Filho e a professora Eunice Helena Costa, tiveram 3 filhos e eu sou o 2º. Apesar de ter vivido em Belo Horizonte, a minha infância foi marcada pelos fins de semana em Pará de Minas, de onde me lembro muito bem e tenho muitas saudades, principalmente da antiga casa de meus avós (maternos), onde hoje é o armazém da Coopará. Também fazíamos passeios na fazenda do meu avô, em Cova D’anta (hoje, Ascensão), e na região dos Paivas. Posso dizer que esses contatos com o interior e com a natureza motivaram a minha escolha pela profissão de biólogo”, apresenta-se Paulo.
DO SUL AO NORTE – “Em 1993, passei no vestibular de Biologia da U.F.M.G. Logo no início do curso me apaixonei pela Zoologia e resolvi me especializar. Depois disso, fiz mestrado no Paraná, onde comecei a estudar a biologia de organismos marinhos e me doutorei na Amazônia, estudando organismos bioindicadores de qualidade de água doce. Dediquei meus estudos para conhecer a diversidade dos organismos aquáticos e saber como eles são usados para definir o grau de impacto ambiental que os rios, lagos e ambientes marinhos podem sofrer”.
E O EXTERIOR? - “Minha experiência no exterior iniciou em 2004, quando fui fazer parte de meu doutorado no Centro Alemão para Estudos da Biodiversidade Marinha (D.Z.M.B. - Deutsches Zentrum für Marinebiodiversitäts Forschungs), um departamento do Museu de Senckenberg, ao norte da Alemanha, em Wilhelmshaven. Por lá, permaneci durante 2 anos e, após defender meu doutorado em Manaus, em 2007, retornei para essa cidade como bolsista de um programa de pós-doutorado para estudar a fauna marinha em regiões abissais (abaixo de 4.000M de profundidade). Retornei ao Brasil em 2010, já casado com minha atual esposa, a grega Eirini Grapsa, quando lecionava nas Universidade Estadual de Montes Claros/MG e na Universidade Estadual de Minas Gerais, além de ter sido pesquisador do Unesco-HidroEX durante 3 anos, até o início de fevereiro deste ano, quando eu e minha esposa retornamos à Europa”.
POR QUE VOLTOU? – “Voltei para a Europa para desenvolver um projeto no Centro de Excelência em Águas da Unesco, o Unesco-I.H.E. (Institute for Water Education – Instituto de Educação de Água, em português), em Delft, na Holanda. O desafio do projeto é esclarecer os efeitos de contaminantes como inseticidas e herbicidas transportados para rios e lagos, no DNA de organismos que habitam esses ambientes. A importância desse estudo é enorme, pois podemos saber o nível potável da água, as medidas necessárias para tratá-la e também podemos extrapolar os padrões de mutação dos genes do DNA em micro-organismos para os seres humanos. Isso, em locais onde os mananciais de água estão contaminados pelo uso irregular e não adequado dos inseticidas e herbicidas nas lavouras.
POLÍTICA BRASILEIRA – “Nunca vi um país tão polarizado entre direita e esquerda como o Brasil. Vejo os movimentos extremistas cada vez mais fortes e, desnecessário dizer, intolerantes. Vejo o desrespeito pelas necessidades básicas e um povo que ainda se engana por um pouco de pão e circo. Para a maioria dos estrangeiros, o Brasil é favela, futebol, carnaval, violência, mulher pelada, Rio de Janeiro, índio e Amazônia. Gostaria que, um dia, nos reconhecessem pela educação, saúde, segurança e honestidade! Quanto às questões ambientais e Copa do Mundo, os estrangeiros expressaram o que viram na mídia, embora os daqui (Europa) sejam de melhor qualidade e menos tendenciosos. Mas muita coisa que acontece no Brasil ainda não aparece nos veículos daqui”.
CIDADÃO DO MUNDO? - “A adaptação à vida no exterior é sempre composta por fases. Na 1ª, há um deslumbramento; depois, nos acostumamos; ou até mesmo nos decepcionamos; e, finalmente, bate a saudade da terra natal. Mas o certo é que não nos adaptamos completamente a lugar nenhum. Nos tornamos um cidadão do mundo, se é que posso usar esse clichê, pois somos compostos por valores diversos, absorvidos e moldados pelo nosso caráter, a partir de experiências com diferentes culturas. Posso dizer que existem coisas que nos agradam e que nos desagradam em qualquer país em que vivemos. Queríamos, na verdade, um Brasil que tivesse o que há de bom nele e também dos outros lugares que visitamos ou moramos. O que sinto mais falta do Brasil é a comida, os amigos e, claro, da família”.