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'Renasci para a vida', diz mãe que teve bebê após perder marido na Kiss - 08/05/2013

Estava tudo pronto para o nascimento da pequena Joana Treulieb, previsto para abril deste ano. O enxoval foi comprado, e o quarto, decorado no apartamento dos pais em Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul. A empolgação da mãe, a advogada Patrícia Carvalho, de 35 anos, virou tristeza no dia 27 de janeiro. O marido João Aloísio Treulieb era o chefe do bar da boate Kiss e foi uma das 241 vítimas do incêndio na casa noturna. No dia 29 de março, quando segurou a filha pela primeira vez, Patrícia voltou a sorrir. "Quando vi Joana pela primeira vez, renasci para a vida. Tudo é para ela, e em função dela. Ela é a presença constante do João na minha vida, representada em cada traço e cada gesto. Fui escolhida por ele para ser esposa e mãe da filha dele. Isso não tem preço", contou Patrícia ao G1. "E ela é a cara dele, igualzinha". Joana vai demorar a entender o quanto seu nascimento foi importante para a mãe. Patrícia era casada com João há um ano, depois de outros 10 de namoro. Em agosto do ano passado, souberam que seriam pais pela primeira vez. Em outubro, que seria uma filha. "Já tínhamos o berço, que o João comprou no Natal, e a parede decorada com coisinhas que sobraram do chá (de fraldas). Mantive a parede e o berço como ele havia deixado", contou. "Havíamos começado o enxoval há bastante tempo", disse. Quatro dias após perder o amado, precisou enfrentar a cirurgia da mãe, Terezinha de Lurdes Carvalho, 63 anos, que foi submetida à retirada de um tumor no intestino. A chegada da menina alegrou a mãe, deu forças a avó materna e conforto a familiares de João, que hoje ajudam Patrícia a cuidar da filha. “O nascimento da Joana me trouxe de volta à vida, mas não só a mim. Renovou as esperanças da minha mãe, que buscou no nascimento da neta forças para a cura da doença. Enxugou as lágrimas da família Treulieb, que hoje se ocupa e faz questão de estar presente todos os dias me ajudando”, conta Patrícia. Diário contará a história A saudade do marido ainda é forte, e se mistura com o orgulho. Patrícia conta que João foi um herói, pois salvou quatro pessoas do incêndio. Tentava tirar a quinta quando não resistiu mais. Hoje ela prepara um diário para que a filha saiba quem foi seu pai. "Conto tudo o que aconteceu, que o pai dela tirou quatro pessoas da boate", diz. Sempre que algo novo acontece, ela escreve. Os textos da advogada e as reportagens de jornais locais sobre o incêndio são reunidos em um fichário, que já tem cerca de 100 páginas. A ideia foi dada por uma psicóloga que presta atendimento a Patrícia. “Nosso diário não é nada mais do que um fichário comum. A primeira frase do diário é ‘para você, Joana...’. Entre reportagens, fotos e escritos já passa de 100 folhas. Quero continuar escrevendo até quando ela possa entender o que significa o diário”, contou. Ser mãe de primeira viagem é sempre uma tarefa complicada, sobretudo sem a presença do pai da criança, e depois de uma tragédia como a da boate Kiss. O aprendizado é constante. “A gente vai se descobrindo e se conhecendo”, conta. Para saber como cuidar da menina da melhor forma possível, a mãe de Joana conta com a ajuda de Terezinha, que desde que recebeu alta mora com a filha e a neta no apartamento que Patrícia dividia com João. A sogra, Sedi Treulieb, tem sido um “porto seguro” para a família. “Ela sempre esteve e está ao nosso lado, cuidando de mim e da Joana”, conta. Além do apoio da mãe e da sogra, Patrícia ainda conta com as dicas da avó materna de João, Irene Cantele, que se desloca de Cruz Alta, no Noroeste do estado, até Santa Maria para ver a bisneta. “Seguido ela vem nos auxiliar”, diz. Patrícia, Terezinha, Sedi e Irene representam quatro gerações, unidas por uma perda em comum e o nascimento de uma nova vida.

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