Dia após dia, por todo o Brasil, mais crimes acontecem com a participação de menores e a falta de reformatórios e de políticas sociais contribuem para o seu crescimento. Em Pará de Minas, houve um caso de grande repercussão, quando um adolescente de apenas 13 anos, por não poder ser preso, cometeu 18 infrações, em apenas 30 dias. Para falar sobre esse assunto, a reportagem GP conversou com 2 psicólogos da cidade, Walfrido Ribeiro e Leone Mesquita. Fique por dentro.
WALFRIDO - “Hoje, há uma pergunta que os familiares e a sociedade vêm fazendo: Por que existem tantos menores infratores? Para respondê-la, temos de levar em conta algumas vertentes: 1ª) Porque algumas pessoas já nascem com tendência para o crime, mas isso não foi provado; 2ª) porque o menor não trabalha, mas a maioria dos jovens que não trabalha não entra para o mundo do crime; 3ª) porque usam drogas, mas a droga não é o problema, mas a consequência. Nossa cultura é praticamente baseada na música Beber, Cair e Levantar e, com isso, nossos jovens acabam acreditando que o valor maior está em curtir a vida, loucamente. Entretanto, os pais de hoje querem dar tudo para suas crianças e nem sempre este é o caminho. Para essa criança ter algo, ela deveria ter responsabilidades, desde pequeno, como arrumar o quarto e dividir as coisas com os irmãos. São pequenas coisas que hoje, cada vez mais, estão sendo deixadas de lado, por causa do pensamento de que criança é custosa de natureza. Por tudo isso, posso dizer que o menor infrator é formado dentro de casa, da família e da sociedade”, expõe Walfrido.
A MAIORIDADE E A LEI – “A recuperação de um menor infrator é ampla. O tratamento psicológico pode ajudar o menor a identificar o grupo familiar dele, a sociedade em que vive, quem ele é e como ele está nesse contexto. Outro ponto em que o tratamento psicológico pode ajudar é mostrando qual é o ganho, o lucro que esse menor vai ter mudando de vida, ao se tornar um bom cidadão. O menor tem todo o prazer e liberdade de uma vida solta e nós, que temos todas as responsabilidades de cidadãos corretos, sabemos que levamos uma vida presa. Então, ser preso pelas responsabilidades acarreta em nós ganhos como trabalho limpo, um salário, dignidade e respeito social. Então, temos que analisar as vertentes. A 1ª é que diminuindo a Maioridade Penal, aumentando a pena dos infratores menores, cria-se um medo na hora de cometer o crime. Porém, com as leis que nós temos hoje, onde uma pessoa comete um crime e com 1/3 da pena cumprida já se está de volta às ruas, reduzindo ou não reduzindo a Maioridade Penal não fará tanta diferença. Enfim, é um assunto que não deve ser analisado apenas pelos juristas, mas também pelos educadores sociais para olhar tudo isso de uma forma mais ampla”.
LEONE - “Além de existir o perfil psicológico, também temos que levar em consideração a condição social na qual vive a pessoa, o aprendizado e a educação por onde ela é construída. Assim, nós temos o perfil que podemos chamar de perverso, que é, tanto do menor infrator, quanto de qualquer pessoa infratora, porque ele tem uma personalidade assim. Mas existe aquele menor que, por conviver em uma sociedade perversa, vai acabar cometendo também infrações, conduzindo a vida de uma forma perversa, mas sem ser perverso”, esclarece Leone.
OS MAUS EXEMPLOS - “Se os crimes acontecerem por distúrbio psicológico, ele nem pode ser considerado crime. Porém, a maioria dos crimes que estamos vendo, no dia a dia das mídias, é uma perversidade social, uma ignorância cultural e educacional, onde o Brasil é mestre! Se algo não for feito, não teremos outra saída, porque a bala disparada por um menor causa o mesmo dano que uma bala disparada por um adulto. Eu, que já recebi vários parentes de pessoas assassinadas, posso dizer que o estrago que uma pessoa assassinada faz na família é algo incalculável. Com isso, podemos crer que o Brasil é um país perverso, onde a política é voltada para os amigos, conhecidos e para o próprio bolso, ao invés de se fazer uma política de cunho social. É isso que realmente está faltando. Vemos políticos - que agora começaram a ser presos , fazendo pior dos que esses adolescentes. Imagine todas essas crianças e adolescentes vendo toda essa corrupção suja neste país, não só na política, mas em todos os setores da sociedade. O que corrompe um menor é a prostituição social, onde ele já está envolvido. Se algo não for feito, esses menores vão crescer com um índice de crueldade enorme, cada vez maior. Entretanto, temos que acabar também com a ideologia, a falsidade e a hipocrisia social, onde traficantes e todos os criminosos acabam sendo valorizados no meio social. Hoje, essas pessoas comandam a sociedade, sendo vistas como pessoas de bem, até que sejam presas e ou descobertas”...
BUSCA DE AJUDA - “A família e os amigos também desempenham um papel importante para se ingressar ou não no mundo do crime. É muito difícil para a família resolver o problema, porque amor de pai e de mãe são tão grandes que sempre tentarão dar uma proteção ao filho. Porém, quando esse filho já está cometendo crimes, a família tem que procurar ajuda de terceiros, pessoas que realmente saibam lidar com esse tipo de problema, em vez de ficar dando ouvidos a quem não conhece e não sabe resolver nada. 70% dos menores infratores podem ser resgatados, apesar de, infelizmente, termos também os menores infratores que realmente já são perversos e se aproveitam de uma sociedade perversa para ficar piores ainda. Mas creio que é possível, através de tratamentos, recuperar a maioria desses menores”.